segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Por Ramon Mello
Foto de Tomás Rangel



Quando criança, o escritor gaúcho Hermes Bernardi Jr. lia escondido os livros da estante de sua casa, rompendo o distanciamento imposto pela mãe. "Ela preenchia a estante de livros, mas éramos proibidos de tocá-los. Eram tidos como objetos decorativos. Recordo que, no centro dessa estante havia um televisor ligado de manhã à noite. Televisão me aborrece profundamente, ainda não consegui resolver essa relação", confessa.

De uma família grande de italianos, com seis irmãos, Bernardi Jr. é natural de Santiago, Rio Grande do Sul, terra do escritor Caio Fernando Abreu – por quem ele nutre uma grande admiração, tanto que Doido pra voar (Artes e Ofícios, 2009), primeiro livro ilustrado pelo próprio autor, é dedicado a Caio (e a Clarice Lispector). 

"Caio surge na minha adolescência, mas só mais tarde descobri o primeiro livro infantil dele, As frangas. Eu senti uma forte necessidade de dialogar com esse livro. Estabeleci uma relação com um romance inacabado dele: Iniciação ao passo da Guanxuma, cujo primeiro capítulo está publicado em Ovelhas negras, um livro póstumo. Fiquei sensibilizado com a descrição que Caio faz da praça da cidade, como uma aranha com patas que pendem para oeste, leste, norte e sul. E, claro, a relação afetiva: foi meu avô quem fez o desenho dessa praça. Achei bacana o Caio captar esse desenho e recriá-lo em sua literatura. Tenho vontade de continuar o romance, quem sabe. Por sua vez, o livro As frangas, do Caio, dialoga com A vida íntima de Laura, de Clarice Lispector. Declaradamente, estou dialogando com ambos em meu livro Doido pra voar, trazendo alguns elementos da estrutura narrativa para o meu texto. Não sei se é uma homenagem ou uma paixão", questiona Bernardi Jr.

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